quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Francisco de Paula Pessoa, o Senador dos Bois.

foto de Nertan Macedo. O Clã de Santa Quitéria. p. 33.

(em construção)

O CLÃ DE SANTA QUITÉRIA

MACÊDO, Nertan. O clã de Santa Quitéria. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1967. (Deixei o computador fazer a correção gramatical da época da publicação). 

Segundo o autor, do português João Pinto de Mesquita, unindo-se a indivíduos das Vilas de Sobral, Santa Quitéria e Granja etc. descendem as famílias Pompeu, Paula Pessoa, Catunda e mesmo Acioly (por adesão matrimonial).
 
O SARGENTO-MOR PINTO DE MESQUITA


A família Pinto de Mesquita fugiu à regra, na sociedade cearense, da tradição predatória e decadente, anunciada por João Brígido, para quem aos pais ricos sucedem  sempre filhos nobres – e a estes, netos empobrecidos pela irresponsabilidade e incapacidade na gestão da riqueza acumulada. P. 17

            Também foram os Pinto de Mesquita, ao longo da história da formação da sociedade pastoril cearense, uma outra exceção: o clã, numeroso, rico e fidalgo, não produziu, como seria de esperar, cangaceiros e valentões, vingadores do rifre e do punhal, a talar os sertões que habitavam com os seus cavalos relinchantes e bárbaros, afeito à fumaça dos combates e tropelias selvagens. P. 17.

            Ao contrario dos Montes e Feitosas, dos Melos e dos Mourões, cujas prosápias de nobreza são duvidosas e obscuras, os Pinto de Mesquita eram de fato “homens bons” no exato conceito e quem a sociedade reinol e colonial traduzia essa expressão.

●Os “homens bons”:

            Os “homens bons”, acrescenta Oliveira Viana, constituíam uma elite reduzidíssima, “uma minoria insignificante em face da massa numerosa de nossa população”: ... “tinham os seus nomes inscritos nos “Livros da Nobreza”, existentes nas Câmaras. Em conseqüência disso, só eles podiam ser eleitores. [...]. 18.

            Sua presença na vila era obrigada, apenas, pelas solenidades do culto religioso ou pelas atividades da vereança, a coisa pública, “uma dignidade, um munis, uma honraria”, lembra o autor de “Instituições Políticas Brasileiras”. 18.   

            Os desses “homens bons” foi o patriarca dos Pinto de Mesquita, o Sargento-Mor João Pinto de Mesquita, varão sisudo, de sangue velho e limpo, que há mias de duzentos anos ostentava nos campos de Santa Quitéria os seus vastos e opulentos criatórios, além dessa prosápia de tradições milenárias (sic), oriundas da sua nobreza peninsular, bem própria da sua raça monarquista, feudal e católica.  19.

            Chegou João Pinto de Mesquita ao Brasil em companhia de um irmão, Manoel Santiago Pinto, indo residir nas terras que adquirira por sesmaria no rio Jacurutu, situando a sua primeira fazenda de gados no curso médio desse rio, no local hoje denominado Jacurutu-Velho, não muito distante da povoação do Riacho dos Guimarães, que era, então, ao tempo, o único núcleo populoso de pequena importância e comércio na região. 21.

●Casamento de colono branco com mulher índia:

            Esse irmão do Sargento-Mor, Manoel Santiago Pinto, foi, por sua vez, residir na Vila Viçosa Real da América, atual cidade de Viçosa do Ceará.
            Naquela vila, casou Manoel com Dona Luiza Pereira de Santiago, de origem tabajara. Possuía muitas propriedades na serra da Ibiapaba e no sertão do Acaraú. [...] . p. 22

●Curiosidade: ia-se buscar parceiro matrimonial por paragens muito distantes:

            Pouco tempo depois, em 1726, casou-se com Dona Tereza Rodrigues de Oliveira, filha do Capitão Luiz de Oliveira Magalhães, natural de Sergipe d’El Rei, e de Dona Isabel Rodrigues Magalhães, natural do Rio Grande do Norte e irmã do do Capitão-Mor Antonio Rodrigues Magalhães, dono de muitas fazendas de criação, entre as quais a Fazenda Caiçara, hoje cidade de Sobral, de cujas terras, por escritura pública, de 10 de dezembro de 1756, fez doação de duzentas braças para a constituição do patrimônio de Nossa Senhora da Conceição, e sob a invocação desta santa se erigiu a igreja que é hoje a Catedral do Bispado de Sobral. P. 22.    

Nesse ano, João Pinto de Mesquita casa, na velha povoação do Riacho dos Guimarães, hoje cidade de Groairas.

            Em 19 de setembro de 1733, o Capitão-Mor da Capitania do Ceará, Leonel de Abreu e Lima, concedia a João Pinto de Mesquita a data de sesmaria de “uma sorte de terras de três léguas, no riacho Maritipoã (hoje Sussuanha), sobre a serra da Ibiapaba”, mas antes já ele obtivera datas de sesmarias em quase todas as terras marginais ao rio Jacurutu, que tem um curso de 90 quilômetros, além de muitas outras adquiridas por compra nos rios Groairas e Jaibara. 23.

●Principais famílias colonizadoras da região norte do Ceará:

            Daí a rapidez com que eles logo se entrelaçaram com outras famílias, no seio das quais imprimiram a sua marca racial, na formação de ramos unilaterais, nascidos de casamentos de seus descendentes com pessoas de outras linhagens e de outro sangue.
            Os Magalhães, os Tôrres, os Vasconcelos, os Cavalcanti de Albuquerque, os Alves da Fonseca, os  Paula Pessoa, os Sabóia, os Gomes parente, os Barbosa Cordeiro, os Frota, os Acioly, os Bezerra de Menezes, os Viriato de Medeiros, os Arruda, os Jucá, os Sanford, os Brito, os Castro, os Lessa, os Pires Ferreira, os Alves Pequeno, os Linhares, os Figueiredo, os Miranda, os Holanda, os Farias, os Pinhos, os Bessa, os Lopes Freire, os Martins, os Pontes, os Fontenele, os Memórias, os Araújo, os Andrade – todas essas famílias, originárias umas de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, outras da Paraíba e do Piauí, aliando-se, pelo casamento, às matrizes raciais da casa senhorial do português João Pinto de Mesquita, concorreram para ampliar a fronte da sua árvore genealógica.
            Mas o velho sobrenome – Pinto de Mesquita – não desapareceu, não se diluiu neste profundo cruzamento com outras casas e linhagens. Ainda hoje ele perdura e se repete no prolongamento de uma parentela imensa que cobre grandes áreas dos municípios cearenses de Santa Quitéria, Sobral, Acaraú, Reriutaba, Uruburetama e outros. [...] . 24.


Eleições para Juiz ordinário da ribeira do Acaraú:

            Rico de terras e rebanhos, João Pinto de Mesquita desfrutaria também do que vinha por acréscimo aos chamados “homens bons” do tempo:  [...] os cargos públicos.
            Em eleições procedidas no Senado da Câmara da antiga Vila da Fortaleza, foi eleito, sucessivamente, nos anos de 1748, 1752, 1760 e 1764, para o cargo de Juiz Ordinário da ribeira do Acaraú. [...] [e] por Carta Patente, de 2 de outubro de 1755, dom José I, Rei de Portugal, o confirmou no posto de Sargento-Mor de Cavalaria do Regimento de Acaraú. 24.

            O Sargento-Mor exerceu, também, as funções de membro e presidente do Senado da Câmara da antiga Vila Distinta e Real de Sobral e de Juiz-Presidente da Irmandade do Santíssimo Sacramento da mesma.
            Morrerá, assim, detentor de tanto poder e honrarias, ele que já era senhor de muitos chãos, de muitos escravos, de uma legião de vaqueiros, crias e mucamas. 25.


Inventario: o valor de um escravo em 1782:


[E na fazenda Jacurutu Velha] ... faleceu o Sargento-Mor, com oitenta aos de idade, no dia 23 de março de 1782, viúvo de Dona Tereza Rodrigues de oliveira [...].
            Foram ambos sepultados na capela do Riacho dos Guimarães.
            No inventário de João Pinto de Mesquita, [...] [feito em Sobral] além da prataria, moveis e imóveis, foram arrolados: 782 vacas parideiras, avaliadas todas pela quantia de 857$280; 120 novilhas, por 120$000; 100 garrotas, 620$000; 300 bezerras, por 300$000; 50 bois de açougue, por 100$000; 180 novilhas, por 190$000; 152 garrotes, por 40$000; 152 bezerros, por 29$000; 40 éguas, por 800$00; 20 poldras, por 32$000; 25 poldrinhas, por 25$000; 50 cavalos, por 250$000; 10 poldros, por 300$00019poldinhos, por 25$000; 12 burros, por 600$000; 2 cavalos de sela, por 140$000 – num total de 2.012 animais, entre, entre bovinos e cavalares.
            Foram igualmente arrolados 28 escravos, avaliados num total de 1.960$000.
            Era grande a fortuna do Sargento-Mor João pinto de Mesquita, um dos “homens bons” da época do povoamento. 25.    

OBS: Daí montamos esta tabela:

Valor deduzido de um escravo no ano de 1782
28 escravos: ....................................1.960$000
Um escravo: ........................................70$000
50 cavalos: .........................................250$000
Um cavalo: ............................................5$000
Ou seja, um escravo valia o equivalente a 14 cavalos!



A PROLE DO SARGENTO-MOR

            Em riqueza e fama cresciam os filhos [...] [do] patriarca do Acaracu.
            Antonio Pinto de Mesquita, ainda a exemplo do pai, exercia os postos de Capitão das ordenanças e depois os de Capitão-Mor e presidente do Senado da Câmara  da antiga Vila Distinta e Real de Sobral e nesta morreu, no dia 4 de março de 1807, com  idade de setenta e um anos. P. 26-27.

            Vicente Alves da Fonseca (genro de Antonio Pinto de Mesquita), [...] foi, como o sogro, fazendeiro rico e por demais influente nas ribeiras do acaraú, social e politicamente. [e uma filha de Vicente casa-se com Francisco de Paula Pessoa, de Granja].


●Francisco de Paula Pessoa, o senador dos bois:  


            De Vicente e [sua esposa] Antonia nasceu também uma única filha, Francisca Maria Carolina, em Santa Quitéria, a 15 de março de 1807, que se casou com Francisco de Paula pessoa, natural de Granja, filho do português Capitão-Mor Tomaz Antônio pessoa de Andrade e de Dona Francisca de Brito Pessoa, nascida na mesma Granja. 27.     


            Esse Francisco [...] Terminaria Senador do império e mais conhecido por Senador Paula.  27.

            Possuía tanto gado que os Conservadores, seus adversários na política, chamavam-no de o “senador dos bois”.

            Ninguém o excedeu, naqueles tempos, em poder e riqueza na região, onde ocupou os postos de maior relevo da governança local: Sargento-Mor das Ordenanças, Capitão-Mor, presidente do Senado da Câmara, Coronel-Chefe da legião, Coronel-comandante Superior da Guarda Nacional, Deputado Provincial e Vice-Presidente da província.
            Por Carta Imperial de [...] 1848, foi nomeado Senador do Império [...] p. 27-28.


OBS: Era longa a circulação por parceiros; Granja, Sobral, Santa Quitéria, Crateús, Pernambuco etc.!


OBS: Vejamos o que os Anais da Biblioteca Nacional trazem sobre este cara:



Caro Amº e Comp(e)  [...]

 [...] limitarei-me a [narrar] hum acontecimento em Sobral, que tras todo o cunho de ser Paula Pessoa connivente nelle. Naquella Vª prendeu-se hum valentão, de quem dois sequases de dº Paulo se temião, e estando sentenciado a dois meses de prisão tramarão huma silada pª se descartarem delle: mandarão-no seduzir pª fugir, e lhe indicarão o beco, por onde deveria correr. Chegada a occasião [...] quando entrou no beco, foi-se encontrando com os dois sequases do Paulo hum com huma granadeira, que lhe foi arrumando com o coice della nas cruzes, que o fes beijar o chão, e o outro com huma espada, [...] [que] foi-lhe atirando hum golpe ao pescoço, o desgraçado metteu o braço adiante, e viu saltar-lhe a mão pela munheca; foi gritando, [que] o não matassem, que estava preso; as pessoas [...] o forão acompanhando na sua suplica, mas o desumano foi-lhe correndo duas estocadas, que o deixou por morto, e como de facto poucos dias depois morreu dellas. [1]


As eleiçõesentre Coservadores e Liberais eram disputadíssimas:

            Faziam-se eleitores para a eleição de deputados, que se effectuava na Província, em 8 distritos, dos quais Sobral era o segundo. [...].
Os liberais de então, chefiados pelo Senador Francisco de Paula Pessoa, vendo que o pleito não aproveitaria a candidato de sua família, que dahi por diante no circulo único, ou de toda a província, sempre foram dois filhos seus, não compareceram à eleição deixando à mercê da família Figueira de Mello e seus consaguineos do ramo Saboya. [...].
A candidatura de Francisco Domingues e a de Linhares ficaram protegidas pela família Gomes Parente, que lhes era consangüínea e dispunha de muito prestígio, firmado ali pelo coronel Joaquim Ribeiro da Silva, homem casado, que se constituiu a primeira influência política conservadora da localidade e tinha sobrinhos accusados na castração de um certo individuo, sendo por isso, temidos, muito temidos da população que os denominava “capadores”.
            Logo ao começar o processo eleitora, suscitou-se uma questão entre partes contendoras, convertendo-se em lucta sangrenta. Os dois irmãos “capadores”, munidos de facas, mataram no conflito quatro membros do partido liberal, sendo um deles, o sub chefe político capitão João Bento de Albuquerque, por isto que, neste sitio, tinha as suas lavouras e criações. [...].
            Alem das quatro mortes em 3 de Novembro de 1856, houve segundo os jornaes da epocha mais de 50 feridos e da péssima impressão recebida no conflito faleceu, no mesmo dia, o chefe liberal, coronel João Bento”. [1]


[1] FROTA, D. José Tupinambá da. História de Sobral. 2ª edição. Fortaleza: Editora Heniqueta Galeno, 1974. p. 378. Destes "irmaõs capadores" descendem palguns trocos dos Ferreira Gomes de Sobral.

            Amigo e correligionário do Padre José Martiniano de Alencar, presidente da província, [...].28.

            Morto Alencar, Francisco, juntamente com seu primo afim, o Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, tomariam a direção-geral do Partido Liberal do Ceará. 28.

            Faleceu o Senador Paula a 16 de julho de 1879, em Sobral [...].

O Senador Paula pessoa teve um filho natural, o Desembargador Leocádio de Andrade Pessoa, que legitimou e de cuja educação cuidou. 29; este sujeito aparece como juiz municipal do Ipu em pesquisa de Oswaldo Araújo (O Povo, 04 de setembro de 1970. p. 9).


...Cruzaram, ainda, os filhos do Capitão Pinto de Mesquita com os Veras, de Crateús, com os Pires Ferreira, do Piauí, com os Andrades, de onde vem o Coronel José Júlio de Andrade, capitalista, dono de imensos seringais na Amazônia e Senador pelo Estado do Pará [...]. Isabel Pinto de Mesquita casou-se, em 1772, com o Capitão José Pestana de Vasconcelos, que foi juiz Ordinário e Presidente do Senado da Câmara de Sobral, natural de Pernambuco e filho do Tenente-Coronel Carlos Manuel César  de Ataíde e Dona Luiza   Francisca Rosa  de Castro, naturais  do Minho (Portugal). P. 29-30.


União de Acioly, Pompeu, Catunda e Souza.


            Do seu primeiro matrimonio, teve Dona Isabel [...] Geracina Isabel de Souza, que se casou com o Capitão das Ordenanças Thomaz de Aquino Souza [...] do Rio Grande do Norte. 
            Do casal [...] descendem os Pompeu e os Catunda [...].

            Do Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, pai dos Doutores Thomaz Pompeu e Souza Brasil (Júnior), Antônio Pompeu, Hildebrando Pompeu e Dona Maria Tereza de Souza Acioly, mulher do Comendador Antônio Pinto Nogueira Acioly, que foi Vice-Presidente da Província, Senador da República e três vezes Presidente do Ceará, descendem Thomaz Pompeu Neto, [...]  os Senadores Thomaz e José Acioly, o Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho, Presidente do Instituto do Ceará, o Embaixador Hildebrando Acioly, [...] e Dona Branca Acioly Sá, que foi casada com o Senador Francisco Sá, o qual por duas vezes, ocupo o cargo de Ministro da Viação (era mineiro) (sic). P. 30.


            De Gregório Francisco Tôrres de Vasconcelos descende a família Tôrres, hoje grandemente disseminada pelos municípios de Santa Quitéria, Ipu, Ipueiras e Novas Russas (sic).
            Toda essa geração numerosa e ilustre, originaria do senhor da casa do Jucurutu, cruzando com diferentes famílias do Ceará e de outros Estados, multiplicando-se em gerações sucessivas, alongando em outras linhagens a velha estirpe dos Pinto de Mesquita, dando ao clã uma continuidade fecunda e perene. P. 31.


O SENADOR DOS BOIS

Francisco de Paula pessoa disse certa vez:

“Minha madrinha [Nossa Senhora], venho agradecer-vos tudo quanto pedi e me concedestes. Amansei dois mil bezerros, sou Senador do império e completo hoje oitenta anos. Mas, minha madrinha, oitenta anos é tão pouco...”


Francisco de Paula Pessoa, o “Senador dos Bois”, era irmão de Pessoa Anta:


            A vida de Francisco de Paula Pessoa não foi fácil. Foi duríssima, de começo. [...]. Quando já enriquecido pelo trabalho, os bens lhe são confiscados. O irmão, João de Andrade Pessoa Anta, um dos cabeças da revolução de 1824, é fuzilado no Passeio Público, em Fortaleza, juntamente com o Padre Mororó e outros republicanos. 32.

            No municipio de Santa Quitéria, sede do clã, situou o Senador Paula o maior número das suas grandes fazendas de gado e isto ainda mais fixou a sua presença no seio dos parentes afins, estreitando os laços de convivência e de solidariedade.

            Da probidade de Francisco de Paula Pessoa, conta-se que, ainda quando comerciante em Sobral, numa das viagens que sempre fazia ao Recife, onde se provia de mercadorias para a sua casa de comércio, ajustou [...] a compra, por quarenta e dois contos de réis, de [...] numerosas fazendas de gados [...] espalhadas pelas ribeiras do Groairas, Macacos, Mundaú, Aracatiaçu e Coreaú, numa extensão de muitas léguas. 33.

            A compra dessas grandes áreas de terras, nas quais se incluíam centenas de cabeças de gados, escravos e benfeitorias, aumentou consideravelmente os cabedais de Paula Pessoa [...]. 33.

            Francisco de Paula Pessoa começou a negociar aos quinze anos de idade, com recursos próprios, depois de sair do teto paterno [...] tendo se estabelecido, aos vinte e quatro anos, em 1819, na cidade de Sobral, onde se fez comerciante em grosso. [...] Sobral lhe daria reputação sólida e os títulos políticos a que já aludimos. 35.

...Prossegue na sua ascensão e presta serviços relevantes à ordem na repressão aos Balaios. Foi mais uma vez, um dos Vice-Presidentes do Ceará e, em 1848 [...] foi escolhido Senador do Império [...]. 33.

Em 1864, com a saúde debilitada, o Senador já não pôde comparecer ao Rio de Janeiro para tomar parte nos trabalhos [...]. 36.


Leiamos parte de tese de minha autoria sobre Paula Pessoa:

A ocorrência da seca de 1877-79 veio mudar este quadro:


Senhor:
Nas calamitosas circunstancais por que estão passando as províncias do Norte causadas pela secca que, haquase dous annos, as devassa, o Governo de Vossa Magestade (sic) Imperial tem-se esforçado por cumprir seu dever empregando os meios de que dispõe para alliviar os soffimentos dos habitantes da quella parte do Império.
            Remessas freqüentes de generos alimentícios até importados [...] te msid o feitas para aquellas provincias, e continuam, em quantidade sufficientes às mais urgentes necessidades e em proporção com meios de transporte de que ora se dispõe, e que se alimentam os portos maritimos ou fluviaes a que podem chegar navios a vapor e à vela, vista da dificuldade de condução para o interior, na deficiência quase absoluta de animaes, que pereceram pelos effeitos da secca. D’ahi resulta que a maioria da população, menos favorecida da fortuna, na impossibilidade de receber nos logares de sua residência os subsídios do Estado, tem affluido para o litoral, onde com grave prejuízo da saúde pública e perturbação da regularidade do serviço da distribuição dos auxílios, acha-se accumulada, inutilizando, na inercia, a actividade que, bem aproveitada, produziria resultados de incontestado valor.
            Tirar vantagem da própria desgraça, empregando em trabalhos úteis tantos braços ociosos; estabelecer um systema de serviço que sobre assegurar a essa população meios de subsistencia, alimente seu amor ao trabalho, mediante razoavel gratificão; tal é, Senhor, o pensamento fundamental do projecto que os Ministros de Vossa Magestade Imperial resolveram submeter à sabia apreciação de Vossa Magestade Imperial, solicitando a necessária approvação. 
            [...] os Ministros de Vossa Magestade Imperial não hesitaram em preferir o da construção de estradas de ferro, que, partindo de um porto navegavel se prolongue pelo interior, na direção de cidades e villas já fundadas e dos centros productores. [...].
            Assim, propõe [o Ministério] não só a resgatar a parte construída da via férrea de Baturité, e a continuar com a possível celeridade o que resta por fazer; mas também levar a effeito outra que, seguindo do porto de Camocim passe pela cidade de Granja e, contornando a serra de Meruóca, termine em Sobral, donde mais tarde se prolongará acompanhando a serra geral em direção ao Piauy. [1]
           


            Graças à seca, puderam as elites políticas cearenses, unindo-se conservadores e liberais, conquistar uma formidável ferramenta de convencimento, a pretexto de “socorrer os flagelados da seca”, convencer o governo do Império do Brasil a despejar capitais na modernização da infra-estrutura porto-ferroviária da província.

[...] desde que a seca foi descoberta em 1877, como um tema que mobilizava, que emocionava, que podia servir de argumento para exigir recursos financeiros, construção de obras, cargos no Estado etc. O discurso da seca e a sua “indústria” passam a ser a “atividade” mais constante e lucrativa nas províncias e depois Estados do norte, diante da decadência de suas atividades econômicas principais: a produção de açúcar e algodão. [2]


            Com a seca, os políticos de influência no cenário cearense aprenderam a “tirar vantagem da própria desgraça[3]. Francisco de Paula Pessoa, unindo-se a José Júlio de Albuquerque Barros (este nomeado presidente da província em 1878) resolveram agir no sentido de favorecer seus redutos políticos, desviando a rota da ferrovia da Serra da Ibiapaba – área muito mais fértil e adequada a este tido de empreendimento do que a região escolhida, o semi-árido de Granja e Sobral, área de insolência destes políticos[4]. Segundo Valdelice Carneiro Girão, Suas relações de amizade – a historiadora refere-se a Paula Pessoa -  com as elites da Corte favoreceram seus interesses pessoais, podendo isso ser comprovado sabendo-se que, “com uma simples carta, desviou o traçado da Estada de Ferro de Sobral”. [5]
            Ao presidente do Ceará, José Júlio Barros, um dos juristas mais contemplados pelo Imperador com títulos e nomeações, e ao velho senador Francisco de Paula Pessoa, os interesses pessoais, a lógica de favorecer primeiramente o seu grupo de parentes e amigos estava à frente da lógica do “bem comum” (ligado aos interesses nacionais ou provinciais). E o velho Imperador e seus ministros, carentes de apoio político – pois o republicanismo crescia a olhos vistos - atenderam-lhes aos caprichos. E a Estrada de Ferro de Sobral estendeu seus trilhos – ignorando a Ibiapaba – sobre o coração semi-árido da região norte cearense.
            Bezerra deixou para a posteridade o seu protesto:


Aquilo significava para mim a última palavra da vaidade humana, a ostentação caprichosa da falta de patriotismo, a impunidade do extravio dos dinheiros públicos sob fútil motivo, o ridículo mais cruciante aos sacrifícios de um povo inconsciente dos seus direitos!
Adiante me encarregarei de provar o que vem a ser aquêle luxo de despesa, aquela argalhada de escárnio modelada em escala ascendente, desde Camucim até Sobral, que nem o futuro com tôdas as suas promessas de grandeza será capaz de fazer emudecer.
... não conheço nesta província nada mais inútil, nem mais ilusório, que aquela grande mentira escrita em 131 quilômetros de trilhos de ferro.  [6]


            Outro absurdo seria a construção em Sobral do Teatro São João em plena seca de 1877-79:   


Depois que o presidente da sociedade [União Sobralense], Dr. Antonio Joaquim Rodrigues Junior, abriu a sessão, procedeu-se à leitura da ata, que foi colocada na cavidade da pedra com três fotografias de ruas da cidade, alguns números d’ “O sobralense”, moedas de prata, cobre e níquel da época atual. A cerimônia religiosa foi ministrada pelo Ver. João José de Castro, e serviu de paraninfo o Dr. Vicente Alves de Paula Pessôa, Juiz de Direito da Comarca. [...].
As obras continuaram, porém morosamente, até que, pela verba dotada para socorros públicos na seca de 1877, tomaram impulso, sendo desta época quase todo o arcabouço. Nesta fase da construção, merece ser evocado, por sua eficaz ingerência, o presidente José Julio de Albuquerque Barros, Barão de Sobral. [7] 



            Segundo Raimundo Girão, José Júlio governou o Ceará de 8 de março de 1878 [...] a 2 de janeiro de 1880 [8].  Somando forças ao velho Francisco de Paula e a seu filho Vicente de Paula (juiz de direito em Sobral nesta ocasião), Júlio e seus aliados tiveram força política para angariar recursos federais a serem empregados na região norte, e não apenas na capital da província. (a seca “apocalíptica” referida por Sebastião Rogério Ponte[9] e Frederico de Castro Neves[10] fora um fenômeno urbano especifico de Fortaleza – a capital pagava o auto preço pela centralização administrativa -, e que na região norte do Ceará se traduzia na ampliação dos investimentos do poder central em obras públicas ligadas as instituições de poder publico e político, como casas de câmara e cadeias).  
            Nada ilustraria mais o esbanjamento e a falta de “espírito público” destes homens do que o desvio da rota da ferrovia, e principalmente a construção do Teatro São João em Sobral. Enquanto milhares de pessoas pobres morriam de fome e de epidemias na capital da província – suas elites políticas estavam muito mais preocupadas em transformar a seca em “oportunidade” e em “progresso” lucrativo. A defesa da vida era o pretexto da ação, mas não o foco da atuação governamental.  
            O teatro era um monumento panóptico de civilização de hábitos, uma obra nodal para promover a distinção social, entre os homens e mulheres distintivos – os “cultos” e “civilizados” – do resto da sociedade, a maré “bárbara” de “caboclos” e mestiços tomados como inferiores tanto pelos preceitos absorvidos do eugenismo europeu como pelas tradições sociais herdadas do universo colonial. Os pertenses e os signos de distinção social estavam sofrendo desgelo; e erigir signos de modernidade e de civilização – câmaras, ferrovias, portos, teatros etc. -, além do óbvio apelo econômico e político, tinha a ver com a construção de uma nova escala de civilidade na qual poucos – os letrados, os homens de poder e prestígio, em fim, as elites políticas e econômicas – poderiam embarcar.
As obras mais expressivas, verdadeiros marcos de penetração do poder público e governamental sobre as povoações dos sertões do Ceará do período, seriam as casas de câmara. Foram construídos, graças aos recursos da seca de 1877-79 prédios elegantes destinados a ser câmaras-cadeias em Granja, Sobral, Ipu, Santa Quitéria, além de se iniciarem igrejas, mercados públicos e outros melhoramentos por várias outras localidades.[11]  
            Até hoje (milagrosamente poupado da sanha “modernizadora” dos administradores municipais), o prédio da cadeia-câmara de Granja guarda memória deste período. Estampa em uma de suas paredes externas se lê, em alto relevo: 


Pelos soccorros do Estado
Eras fataes!
De 6 de novembro de 1877
A 25 de julho de 1878[12]


            O Almanak Ipuense de 1900 deixou registrado a cerca da cadeia-câmara de Santa Quitéria que:

A casa da Câmara Municipal, que fica no ângulo norte da praça da matriz, é um edifício magnífico, grande, bem edificado, alto, muito elegante, de construção muito sólida e feito com todas as regras da arte, tem um andar que serve para os trabalhos da Câmara, audiências, sessões do jury &, com 3 grandes salões e diveros quartos, e o interior, que serve de cadêa, com 3 prisões bem espaçosas e arejadas, quartel, sala de armas &.  [...].
Este edificio teve começo com os socorros publicos, na grande seca secca de 1877-1879, e foi terminado também com os socorros publicos na de 1888-1889.  [13]


            Já sobre a do Ipu, podemos dizer que


O prédio onde funciona hoje a Prefeitura Municipal de Ipu, foi construído pelo Governo Estadual em 1877, sob a direção de Antônio Francisco de Paula Quixadá.
Funcionou primeiro como Cadeia pública, e no local de sua edificação havia em grande abundância, a planta “unha de gato”.
Comissão encarregada da construção da Cadeia de Ipu
Dr. Leocádio de Andrade Pessoa
Dr. Raimundo Teodorico de Castro e Silva
Coronel Felix José de Sousa
Dr. Eugênio Gomes Bêcco
Raimundo de Sousa Martins
O prédio era constituído de dois andares – sendo três compartimentos no andar superior e três no andar inferior.
No andar superior, o primeiro compartimento, servia para os trabalhos da Câmara; no segundo funcionava o Conselho e no terceiro, depósito do Arquivo, acervo referente à Câmara.
No andar inferior, os dois compartimentos da frente eram destinados aos presidiários e o do centro, que se comunicava com o andar superior por meio de degraus, servia para o armamento. [14]


            Ali, ao norte da antiga sede da povoação da Vila Nova do Ipu Grande, em meio às moitas de mufumbo perfumadas e as unhas-de-gato arredias, entre trepadeiras e sepulturas, à sombra da grande cordilheira da Serra da Ibiapaba, a modernidade se materializou nos sertões do Ceará como um imenso espantalho de tijolo e cal: a torre panóptica da cadeia-câmara do Ipu. Erguido em tempo recorde por braços e capitais ligados aos socorros públicos da seca de 1877-79, o prédio evidencia a conjuntura de maturação institucional que o gerou: ali o poder deixava a casa de fazenda parental para ganhar um endereço fixo e uma face conhecida: os dois andares de tijolos da casa de câmara da Vila Nova do Ipu Grande. E o processo de maturação institucional que no centro do país se traduzia com a ampliação do grau de separação entre o poder público e o poder privado ganhava na arquitetura da câmara da vila uma evidência nodal irreversível. A partir daquele ponto, nada seria como antes, e o Estado se tornaria maior que a família nos sertões do norte província do Ceará.
            O Dr. Leocádio de Andrade Pessoa, juiz municipal no Ipu em 1877, segundo Macedo, era filho ilegítimo do senador Francisco de Paula Pessoa [15], e bastante provável que Antonio Francisco de Paula Quixadá, também pertencesse a este mesmo clã (o nome de Quixadá aparece como vereador da câmara de Sobral entre os anos de 1861-64, e ele e sua prole adquiririam visibilidade na vila do Ipu nos anos finais do século XIX) [16].  Raimundo de Sousa Martins era homem ligado ao Felix de Sousa (à medida que recuamos no tempo, Martins, Sousa, Melo, Araújo e Aragão se misturam numa mesma árvore genealógica indistinta), genuinamente um membro das mais autênticas e antigas famílias parentais da localidade (de sua descendência nasceriam à base política da parentela que manipularam a política na cidade nos anos iniciais do século XX, mas fato fora de nossa pesquisa). Seguindo as pistas genealógicas, fica evidente que, graças principalmente à política partidária, a família parental, que se confundia com o governo desde o período anterior a Independência, soube se adaptar aos novos tempos, e embarcar dentro da estrutura de poder da monarquia e mesmo da república (mas a fatia do “bolo” do poder que o Estado lhes legou ficara menor).   
            Seja em Sobral ou na Vila do Ipu, homens como Francisco de Paula, Vicente de Paula, Paula Quixadá, Leocádio de Andrade Pessoa, Felix José de Sousa, transformando a seca em “empreendimento oficial”, ou manipulado para os seus os postos da máquina pública, ajudaram a ampliar o raio de penetração do Estado no ambiente “autárquico” dos sertões. Uma vez fortalecida, a estrutura burocrática do governo acabaria por possibilitar uma maior ingerência do governo central no ambiente interiorano.  E, diante de uma nova realidade institucional, verifica-se a acomodação das estruturas mentais de personalidade da população à nova realidade. Elias diria que teria ocorrido o avanço do processo de civilização dos costumes.  
            Mas a seca não fora uma ficção inventada pelas elites: a novidade era o uso que se fez da mesma: “Houve enorme mortandade de gado e perda quase total das plantações de algodão[17], e Fortaleza - Sobral em menor escala - viu-se invadida por milhares de “retirantes”.


A grande seca de1877-1879 não só secou os reservatórios d’água de Fortaleza como trouxe grandes efeitos sanitários para a Capital. [...] a estiagem expulsou mais de 100 pessoas para a Capital, então com cerca de 30 mil habitantes. A maior parte destes retirantes famintos e depauperados ficou abarracada nos subúrbios. [18]  


            Fortaleza pagava o preço por concentrar capitais de combate à estiagem, e por sua crescente polaridade política e econômica.
            Na cidade de Sobral, localizada no outro extremo da província, Rodolfo Theófilo, o “historiador das secas”, deixou registrado que “foram dizimadas famílias inteiras[19], e José Tubimanbá da Frota fala-nos que: Entre os serviços públicos de emergência, que o Governo mandou executar em Sobral por ocasião da sêca de 1877-1879, para dar meios de subsistência aos flagelados, avulta a construção da Cadeia pública. [20]


Acertara a Comissão de socorro em substituir a esmola deppresssora pelo salário emulativo, pago em rações de farinha de mandióca, arroz, carne de xarque, feijão e bacalháo verdadeiros guloseimas para infelizes creaturas, açoitadas pelo flagelo da seca, a calamidade estupenda e horrível que devassava o sertão cearense. [21]


  
            Tomás Pompeu de Souza Brasil morre em dois de setembro de 1877, e Francisco de Paula Pessoa em 16 de julho de 1879, mas é provável que viveram o bastante pra – mesmo gozando da proteção “amiga” dos cofres públicos – verem as milhares de cabeças de gado perecerem em suas muitas fazendas distribuídas por toda a região (é possível mesmo que a seca – por depressão - lhes tenha apressado a morte). Mas eles não se foram sem deixar continuadores: Pompeu Brasil viu seu genro, Antonio Pinto Nogueira Acioly, assim como seu filho-homônimo, e seu sobrinho, Joaquim de Oliveira Catunda, crescerem na política provincial. Já Francisco Alves de Paula Pessoa, que tinha como herdeiro político o bacharel Vicente Alves de Paula Pessoa (nesta ocasião juiz de direito em Sobral) morreu amargo, por ver o filho ser preterido da lista tríplice para o Senado. (só em dois de maio de 1881 este Pessoa ascenderia à condição de senador, para morrer oito anos depois, em 31 de março de 1889, sem repetir o sucesso político do pai). [22]


[1] Apud. OLIVEIRA, André Frota de. A Estrada de Ferro de Sobral. Ed. Expressão Gráfica e Editora LTDA. Fortaleza, 1994. p. 35-36.
[2] ALBUQUERQUE Júnior, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo; Ed. Massangana. Cortez, 1999. p. 58.
[3] Apud. OLIVEIRA, André Frota de. Op. cit. p. 35-36.
[4] Frota. Op. cit. p. 479.
[5] Girão. V. op. cit. 36.
[6] MENEZES, Antônio Bezerra de. Notas de Viagem. Imprensa Universitária do ceará: Fortaleza, 1965. p. 67.
[7] FROTA, D. José Tubinabá da. História de Sobral. 2ª ed. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1974. p. 496-497. (o grifo é nosso).
[8] Girão. R. 1985. op. cit. p. 302.  Anos mais tarde – em 1887 – este homem seria agraciado com o título de Barão de Sobral.
[9] PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860 – 1930). 3ª ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001.
[10] NEVES, Frederico de Castro. A multidão na história: saques e outras ações de massa no Ceará. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense. Tese de doutorado, 1998.
[11] I. Ibid. p. 326-328.
[12] Estas informações estão estampadas nas laterais da antiga câmara municipal da cidade de Granja, e ainda hoje podemos visualizá-las. 
[13] RODRIGUES, Herculano Jose, [et.al]. Almanak Ipuense. [Ipu]: [s.n.],1900. p. 64-65.
[14] Mello, Maria valdemira Coelho. O Ipu em três épocas. [s.n], 1985. p. 22-23. (o grifo é nosso).
[15] Macedo. 1967. op. cit. p. 29.
[16] Marins, Vicente. Homens e vultos de Sobral. 2ª ed. Fortaleza: Edições UFC/Stylus, 1989. 32. e Sousa, Eusébio. 1915. Op. cit. p. 223.
[17] Frota. Op. cit. p. 418.
[18] PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860 – 1930) 3ª ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001. p. 84
[19] Rodolfo Teófilo. Apud. Frota. Op. cit,. p. 420.
[20] Frota. Op. cit. p. 469.
[21] OLÍMPIO, Domingos. Luzia Homem. Apud. Frota. P. 471. (como no original).
[22] Studart. Op. cit. p. 181-182.





Segue Nertan macedo:

 
Francisco de Paula Pessoa era Primo da Mulher de Thomaz Pompeu de Souza Brasil.


Era amigo íntimo do Senador Padre José Martiniano de Alencar e seu correligionário fiel. Ao primo da sua mulher, o Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, passaria o comando do Partido Liberal na Província. A escolha de Pompeu para o Senado do império , em 1864, foi obra de Francisco de Paula pessoa, que tinha pelo parente afim e amigo dedicado a maior afeição. 36.

Um filho do Senador, Vicente Alves de Paula Pessoa, sentaria também numa das cadeiras do Senado da Monarquia.



O SEGUNDO SENADOR PAULA

O primeiro Senador Paula foi Francisco de Paula Pessoa (o pai), e o segundo foi Vicente Alves de Paula Pessoa (filho daquele).


O segundo Senador Paula, Vicente Alves de Paula Pessoa, não foi um político militante como o pai, [...]. 

Filho do Senador Francisco de Paula Pessoa e de Dona Francisca Maria Carolina de Paula Pessoa, nasceu o Senador Vicente Alves de Paula Pessoa a 29 de março de 1828, na cidade de Sobral. Formou-se em direito, aos 22 anos de idade, pela Faculdade de Olinda, a 25 de novembro de 1850, voltando de Pernambuco ao Ceará, onde iniciou sua carreira de magistrado, como Juiz Municipal do Ipu, nomeado para essas funções por decreto de 2 de março de 1852. Foi Juiz Municipal de Fortaleza, Juiz de Lagarto em Sergipe, de São José de Mipidu, no Rio grande do Norte, e em Saboeiro, Aracati e Sobral, do Ceará. Juiz de Direito de Sobral, de 1866 a 1876, foi nomeado Desembargador da Relação do Pará, a 18 de dezembro de 1875 [...]. Dom Pedro II fê-lo Conselheiro em 1879, sendo ele aposentado [...] com as honras de Ministro do supremo Tribunal de Justiça, por decreto de 21 de outubro de 1880. p. 38.   


  Em 1881 [...] foi escolhido Senador pelo Ceará [...].

Morreu [...] na cidade de Sobral [...] [em] 31 de março de 1889: era um monarquista convicto, e não chegou a ver a Proclamação da República. p. 39.

Em 1877, publicou [...] sua obra mais importante, os “Comentários ao Código do Processo Criminal do Império”, [...].  


Livro de Vicente de Paula Pessoa: “Comentários ao Código do Processo Criminal do Império”.



O SENADOR THOMAZ POMPEU, UM PIONEIRO

Thomaz Pompeu. 
Pai dele: Thomaz de Aquino Souza.
Aquele era Primo da mulher de F. de Paula Pessoa (36).
Genro de Nogueira Accioly. (49).

            Sabe-se que o Senador [Thomaz Pompeu de Souza Brasil] fez o curso primário em Santa Quitéria, o berço natal dos seus antepassados, os Pinto de Mesquita, tendo por mestre seu próprio pai, Capitão Thomaz de Aquino de Souza, que era um homem suficientemente instruído, pois abandonara o Seminário de Olinda quando já cursava o primeiro ano de Teologia.
            O Senador Pompeu era Padre e bacharel em Direito, ordenado e formado em Pernambuco. 41.

...Foi o Senador quem fundou o velho Liceu do Ceará... 44.

Jornalista, fundaria “O cearense”, órgão liberal, a 16 de outubro de 1846. .p. 46.

...Desde 1844, fôra (sic) eleito à primeira suplência da deputação geral, tomando parte nos trabalhos dessa legislatura, por falecido o [...] padre Costa Barros [...] . à Câmara Temporária foi chamado [...] até que em 1864 ocupou uma cadeira vitalícia no parlamento como Senador do Império. ...47.


O Partido Liberal:

            Os liberais pugnavam pelo trabalho livre, com a abolição dos escravos. Batiam-se pela temporalidade do Senado, então vitalício; pela autonomia das Províncias, que viviam sob o domínio da centralização do sistema monárquico, não tinham Constituição e cujos presidentes eram nomeados pelo Imperador e, como tais, meros delegados do poder imperial. E queriam ainda a reforma do sistema eleitoral, além de outras. 49.

            Talvez se encontre aí a razão que levou seu sobrinho e afilhado, o Senador Joaquim Catunda, a aderir, mais tarde, ao ideal republicano.
            O próprio Pompeu era um liberal avançado, da linha do chamado grupo ortodoxo do liberalismo, que tinha fundas raízes nos movimentos republicanos de 1817 e 1824, quando parentes seus, os padres Mororó e Miguelinho, foram imolados aos seus ideais de liberdade e republicanismo.
            Era o Senador um legítimo herdeiro político de José Martiniano de Alencar e do Coronel pessoa Anta, irmão do primeiro Senador Paula Pessoa, e fuzilado juntamente com padre Mororó. Não estaria, a essa altura da sua vida pública, desiludido Pompeu do sistema monárquico reinante e já evoluindo para o ideal republicano?


Thomaz Pompeu de Souza Brasil era genro de Acioly.


             Tudo indica que sim: seu genro, o futuro Senador Nogueira Acioly, escolhido (mas não empossado) para a Câmara Alta, nas vésperas da proclamação da República, adaptou-se e sobreviveu bem ao advento do novo regime, do qual foi figura exponencial durante muitos anos. 49. 

Era considerado o chefe dos liberais do norte do Império e muitas províncias do Sul lhe delegavam poderes para advogar seus interesses no Parlamento. 50


Relatório de Thomaz Pompeu falando de educação:


...apresentou relatório ao chefe da província, no qual insiste pelas suas idéias reformistas [...].
“...A nossa educação secundária, modelada pelos liceus de províncias e colégios de cursos jurídicos, parece só ter em vista preparar nossa mocidade para esses cursos e dar-lhes uma educação puramente clássica e teórica, no que certamente não atende às necessidades educacionais do nosso país. Ela deveria compreender parte dos conhecimentos científicos que têm (sic) mais relação com as artes e as indústrias e que tendem a formar homens úteis e de alguns conhecimentos para a vida prática e produtiva, ficando ao gênio e ao talento especial dedicar-se à instrução literária e superior”.
            E continua: “Nos países adiantados, como é sabido, aplica-se cada jovem àqueles conhecimentos que tem de utilizar na sua projetada vida futura. Entre nós, porém, depois de um conhecimento imperfeito de instrução primária, passam os educandos para o estudo do Latim, Lógica, Retórica, etc., seja qual for a profissão a que se vão dedicar, e entrados, depois, no terreno da vida prática, aplicados ao comércio, à agricultura, à criação e às artes, nenhum uso podem fazer desses conhecimentos, e são forçados a esquecer princípios que não sendo outra coisa mais do que preparatórios para as ciências superiores, não têm aplicação nenhuma na vida ativa e laboriosa a que se vão entregar no meio em que vivem. 51
            E conclui: “Julgo, pois, conveniente que se reforme o nosso plano de educação, no sentido de se dar alguma tendência à nossa mocidade para a indústria e o trabalho, transmitindo-lhe alguns conhecimentos das ciências naturais, principalmente da física e mecânica, tão necessárias para o conhecimento da propriedade dos corpos, ação dos agentes naturais e suas diversas combinações e aplicações nos processos da indústria e do trabalho em geral. È notável que em um país onde a agricultura e a criação de gados formam meios de auxiliar a exploração e o desenvolvimento dos recursos naturais e de evitar os males que paralisam essas indústrias, meios que poderão encontra-se pela escola, no conhecimento das ciências práticas”.  P. 51-52.


Pompeu era Sócio da Estrada de Ferro do Baturité.


E quem defendia tais idéias era um humanista completo, de imensa cultura, bebida nas ciências e nos clássicos da antiguidade, um filósofo e um teólogo, um padre que era também um bacharel, um típico elemento da elite intelectual brasileira do século passado. 52.

Organizou a “Companhia Cearense Via-férrea de Baturité”, em 1870, destinada à construção da estrada de ferro que se estenderia, muitos anos depois, até a cidade do Crato, no sul do Ceará. 53.

Os trabalhos de construção do leito da estrada tiveram início no dia 20 de janeiro de 1872, [...].

Depois da sua morte, em 1877, os negócios da “Companhia Via-Férrea de Baturité”, da qual Pompeu era, desde a sua fundação, o presidente, sofreram sensível declínio, que poderia ter resultado na paralisação dos trabalhos de prolongamento da estrada, se o Governo Imperial não a houvesse encampado, como fez, por decreto de 8 de janeiro de 1878, no qual, também, autorizou o início da construção da Estrada de Ferro de Sobral. 53.   


Raro comparecia às palestras nas “rodas nas calçadas”, hábito de feição cearense perfeitamente justificado naquela época em que não havia clubes nem casas de diversão”....(sic).


F. Paula Pessoa Faleceu a 16 de julho de 1879, em Sobral [...].
Pompeu – 2 de setembro de 1877.


O SENADOR CATUNDA


Catunda era inimigo do padre Correa e ambos eram liberais!!!


            O Senador Joaquim de Oliveira Catunda, um Pinto de Mesquita que se fez liberal e depois republicano [...].  Era homem de muito talento, poliglota e autodidata, imaginoso e aristocrata.
            Foi professor primário no Ipu, no inicio da sua vida pública, quando, então, escreveu a famosa biografia do último vigário colado da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, o padre Francisco Correia de Carvalho e Silva, político sertanejo dos mais astuciosos e petulantes em seu tempo. 56.


OBS: Catunda foi quem escreveu a biografia do padre Correa; se ambos eram liberais, que porra é essa? Nertan Macedo não poderia ter se enganado; o que nos deixa sem uma explicação convincente para um ataque tão virulento ao padre do Ipu. (poderia ser algo pessoal, intimo? Ou nesta época o padre era Conservador?)

Catunda nasceu na então povoação, hoje cidade, de Santa Quitéria, no Ceará, em 2 de dezembro de 1834, filho do Capitão Antônio Pompeu de Souza Catunda. 57.       

Estudou [...] no Liceu do Ceará, tendo, nesse intuito, ido, em 1849, para a casa do seu tio e padrinho, o Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil.

Matriculo-se na Escola Militar, em 1857 [...].


            Pretendendo, depois, um emprego público, foi nomeado segundo escriturário da Alfândega da Corte, por concurso, em 1862, e primeiro escriturário da Alfândega do Ceará, em 1864.
            No ano seguinte, foi nomeado Oficial-Maior da Secretaria do Governo, em 1879, Secretário do Tribunal da Relação.


Catunda morreu em 1907, como senador na República. Vê-se a facilidade com que estas elites se adaptaram aos novos tempos.

            Antes da quedada Monarquia e depois da morte do seu tio, o Senador Pompeu, aderiu às idéias republicanas, fundando com outros companheiros o Centro Republicano do Ceará, do qual era presidente na data da proclamação da Republica, em 15 de Novembro e 1889.
            Eleito Senador Federal, em 1890, faleceu no exercício de suas funções legislativas, pois for sempre sucessivamente reeleito, no dia 28 de julho de 1907, vitimado por uma gripe intestinal. P. 57.


Livro de Catunda: “Estudos de História do Ceará”.


            Como historiador – o Joaquim Catunda é autor dos “Estudos de História do Ceará”, reeditado em 1919 [...].
            Anticatólico, responsabiliza, na introdução [...] o dogmatismo cristão pela quebra de continuidade no conhecimento da evolução humana.
            Através dos séculos, o dogma, diz ele, serviu apenas para afadigar o espírito humano “no acanhado âmbito das concepções semíticas, cerradas pela Igreja e pelas fogueiras do Santo Oficio as avenidas que conduzem ao conhecimento científico das coisas”.  

            Ele representa o clássico cientificismo do século passado, o que, entretanto, não anula certa originalidade de Joaquim Catunda ao abordar coisas, fatos e homens da sua terra natal.


Opinião de Catunda sobre a gênese do cearense: “preguiçosos, vagabundos e pederastas”.


            Não tinha também muitas ilusões acerca do homem cearense, rebento do português predatório e dos tubinambás afeitos ao roubo, preguiçosos e salteadores, vagabundos e guerreiros, que “cultivavam com tal excesso o vício da pederastia que se pode considerar como uma das causas do pouco desenvolvimento da população” (referia-se à população do tempo do povoamento).
            ...Os índios cearenses não tinham moral nem senso de propriedade. Eram bebedores inveterados, comedores de piolhos e barro, exibicionistas sinistros, faladores em excesso. P. 58.

...”Se a raça fosse capaz de governo regular teriam (eles, os índios) chegado ao regime parlamentar, não por amor da loquacidade vã que tanto apaixona as raças interiores, e aos espíritos vulgares nas raças superiores”. 59.

            Sempre a maltratar os índios, fala o Senador, com simpatia e admiração, dos jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira, os dois grandes missionários da Ibiapaba, o primeiro dos quais assassinado pelos selvagens da região.

Não faltara a Joaquim Catunda desembaraço e firmeza para criticar as origens do seu povo cearense. Tais origens se revestiam de péssimos antecedentes e predicados.
            “Foi a indústria pastoril  [...] que povoou os sertões do Ceará. Crioulos portugueses das possessões africanas e das capitanias vizinhas se estabeleceram à margem do Pageú, do Pacoti e pequenos vales do Jaguaribe, do Acaraú e de outros rios. Nobilitou a coroa de Portugal o casamento de seus súditos com mulheres indianas, e a mestiçagem cresceu com rapidez prodigiosa. A mulher cearense é de fecundidade pouco comum”.
             Dirá ele [...] da terra, que ela “foi também o refúgio de malfeitores, ladrões e vadios das capitanias vizinhas, onde já os inquietava a polícia. Essa estranha população vivia nos bosques, caçando e furtando gados...” p. 59.
           

Catunda criticando a organização política e judiciária do Ceará (na república?):


            Ao comentar depois a tentativa de organização política e judiciária do Ceará, não perde Catunda a oportunidade de, maliciosamente, recordar que os primeiros senadores eleitos “representavam o adiantamento intelectual da Capitania – somente um sabia ler e escrever”, mas, apesar disso, “não consta de documentação nem diz a tradição que nos tempos coloniais houvesse falsificação de ata eleitoral ou compra de votos”... p. 60.


Compra de voto no inicio da república (?): 

...“não consta de documentação nem diz a tradição que nos tempos coloniais houvesse falsificação de ata eleitoral ou compra de votos”... p. 60.

OBS: Ora, a necessidade da compra do voto, ou do “falseamento” das eleições, retrata justamente a crescente dificuldade destes grupos em manter o domínio, pois antes simplesmente não havia disputa.




OS CORONÉIS DE SANTA QUITÉRIA


            A pequena Santa Quitéria é a cidade dos Pinto de Mesquita, no alto sertão norte do Ceará.  61.
            Quem a viu, numa noite, adormecida à luz mortiça dos seus postes, ou sob um claro luar, não a esquecerá mais.
           
            E, dede então, desde aquele recuado tempo, Santa Quitéria foi sempre dominada  e governada pelos Pinto de Mesquita, que nela subsistem, que nela se reproduzem, na cidade, nas fazendas, nos povoados do município, ora com sobrenomes diferentes como Catunda, Pompeu e Magalhães, ora, e com maior freqüência, com o velho sobrenome originário do Minho. 61.

            Vão assim realizando, através do processo agregativo e ininterrupto da comunidade parental, o sonho dos fundadores da cidade, que a desejavam destinada a perpetuar-lhes o nome e a tradição.


            Santa Quitéria sempre foi, como dissemos, um domínio, um feudo dos Pinto de Mesquita. Estes, numerosos e influentes embora, mantiveram-se, pelo tempo a fora, ordeiros e pacíficos. A cidadezinha, familiar e endogâmica, não registra, na sua história, as façanhas e os dramas sangrentos, tão comuns a outras cidades e municípios sertanejos, de crônica avermelhada e bulhenta. 62.

Curioso: essa linha de comportamento social, característica da região, da qual Sobral é a expressão mais legítima, é motivo de pilheria para o resto do Ceará. Quem vai aos Estados Unidos de Sobral – dizem – tem que tirar passaporte e comprar dólares...
            Uma única vez tiveram os Pinto de Mesquita de apelar para as armas.


Assalto à Santa Quitéria (1825):

...quando a então povoação de Santa Quitéria foi assaltada, em abril de 1825, por um grupo de facínoras, chefiado por Benedito Martins Chaves, da célebre família Chaves do Coronel Manoel Martins Chaves [...] e aparentado dos Feitosas dos Inhamuns.
           
            Visavam os salteadores, que, antes, já haviam investido contra Vila Nova D’El Rey (hoje Guaraciaba) e ameaçado a Vila do Sobral, saquear as casas de residência e propriedade do rico Capitão-Mor Antonio Pinto de Mesquita e seu genro, o Coronel Vicente Alves da Fonseca, mas estes, prevenidos em tempo, os repeliram, fazendo-os recuar numa noitada de nutrido e impetuoso tiroteio, no qual foram mortos dois dos do grupo assaltante, saindo outros feridos.



Governador sugere a eliminação de criminosos: 


               ...José Felix de Azevedo e Sá [governador da província] [...] oficiou, em 27 de abril de 1825, ao chefe de polícia, [...]: p. 62.
‘”Tendo chegado ao meu conhecimento o insulto feito na povoação de Santa Quitéria às autoridades da mesma povoação por Benedito Martins Chaves e outros de seu grupo, a ponto de atacar com armas e fazer fogo contra as pessoas e residências do Capitão-Mor do distrito, Antônio Pinto de Mesquita e Comandante do mesmo distrito, Coronel Vicente Alves da Fonseca, que estavam acompanhados de alguns cidadãos pacíficos que se tinham armado para se defenderam do premeditado insulto de Benedito, não havendo morte alguma [...] da parte dos pacíficos cidadãos, e sendo antes morto dois e feridos outros, dos agressores, e cumprindo-me primeiro dever guardar a ordem e tranqüilidade dos povos desta Província, pó-los ao abrigo de malvados e assassinos de que tanto se acha infestada esta província, já pelo desleixo de alguns Comandantes, ordeno a V. S.ª que preste todo auxilio ao sobredito Capitão-Mor e Comandante para a captura dos bandidos Benedito e seus companheiros, e lhe recomendo haja de empregar toda a diligência possível para prendê-los e remetê-los com toda segurança para as cadeias desta capital, podendo fazer-lhes fogo no caso de que façam a menor resistência, pois a sociedade, bem longe de perder com aniquilação destes e outros semelhantes, lucra consideravelmente com a restituição da sua tranqüilidade, tão atroz e injustamente roubada. [...]”. 63. 

OBS: O ataque estendeu-se a Sobral, Santa Quitéria e Campo Grande; haveria nele alguma conotação política? Não sei, mas não podemos descartá-lo.

            Passando esse acidente da sua história, retomou Santa Quitéria a sua marcha para o progresso, lento sem dúvida, como o de todas as velhas cidades sertanejas, mas impulsionado, sempre, pelo trabalho pacifico e a solidariedade parental dos seus habitantes.



●Seca de 1877: 


[Antonio Bezerra, em 1883, passando por Santa Quitéria diz:]

“Assentada sobre a margem ocidental do rio Jucurutu, numa planície em forma de ângulo que descreve o rio deste lado, conta a Vila de Santa Quitéria umas cento e vinte casas distribuídas na longa praça em cujo centro se acha a igreja matriz, em três ruas das quais a melhor e mais bem edificada corre à esquerda do templo em rumo de Sul e Norte, e ainda em outras com largos intervalos em sentido contrário atravessando estas.  Um edifício elegante quase vê ao lado oriental da praça, destinado à servir para a Câmara Municipal e Intendência, está abandonado à falta de um pequeno auxilio dos cofres provinciais. É pena; não há outro melhor em outra parte. Está traçado com todas as regras da arte. [o prédio foi concluído em 1888] O mercado no extremo sul da rua mais extensa, não está inda concluído, mas no que se há feito apresenta quartos de frente elevados que prometem, na conclusão, um excelente edifício. Perto daqui, levantam-se novas casas, pelo que noto que a vila se estende para este lado. É a primeira localidade que se lembrou de construir, depois da seca de 1877. A vila apresenta perspectiva alegre e como sertão o seu território é um dos mais produtivos da província. P. 63-64.  


OBS: Vê-se claramente que a seca já havia se transformado numa “oportunidade” aos políticos daquele momento; a conclusão destas obras sempre está ligada às estiagens. O progresso, com a instalação de prédios públicos nesta área, está irremediavelmente ligado às verbas das secas.

OBS: Já havia intendências em 1883? Ou era só uma meta? Isso quer dizer que a maturação institucional não fora abortada com a instalação da república (1889).


Bailes e festas de elite:


            Algumas coisas do passado já não existem em Santa Quitéria. Deixaram, porém, forte memória naquela terra.
            Animados bailes do sobrado da Intendência encerrando, com as suas valsas, chotes e quadrilhas, tradicional festa de junho, a mais importante e ruidosa que se celebrava na cidade e que atraía famílias da melhor sociedade de Sobral e de outras cidades vizinhas. P. 64.


●Colégio em Santa Quitéria e região em 1900:


            O colégio do padre Tabosa (anos 1900-1904), o primeiro estabelecimento de ensino secundário que se instalou ao norte do Estado, de tanta significação para o tempo e o meio e que, numa pequena vila sertaneja, manteve sessenta e três alunos internos vindos de Sobral, Ipu, Crateús, Ipueiras, Itapipoca, Tamboril e outras localidades.


...o que mais se recorda e se venera em Santa Quitéria são as figuras austeras dos seus coronéis, uma legião de oficiais da Guarda Nacional que ali acampou para comandar, não soldados mas vaqueiros.


A sede da Guarda Nacional? (pode ser, pois a cidade era muito influente no século XIX).


            O pequeno burgo dos Pinto de Mesquita era, na verdade, o Quartel-General da velha e desaparecida Guarda Nacional no Ceará.
            Certo, esses coronéis não comandavam corpos de tropas e aguerridos batalhões.


Manipulação de eleitores:

            A patente, ornada com a chancela oficial, dava-lhes, além de tudo – porque se não tinha comando militar, validamente o exerciam através da ascendência sobre a parentela numerosa, os vaqueiros e agregados, e chefiando as massas eleitorais que faziam marchar para as batalhas das urnas, tão acesas e atritantes como os entreveros de campo.


Festas e fardão da Guarda:

            Nos dias e nas festas de gala e nas procissões religiosas, os coronéis quiterenses vestiam o seu solene “croisé” (sic) de lapelas de seda e alguns deles ostentavam a sua farda de oficial da Guarda Nacional, enfeitada de dragonas e alamares.


            Só o que não mudou foi o domínio que ali exercem os Pinto de Mesquita.
            Nenhum alienígena será capaz de arrebatar-lhes o comando.
            O partido do governo e o da oposição constituem grupos organizados e dirigidos pelos homens do clã.
            Nem foi para outra coisa que um filho do patriarca do Jucurutu Velho fundou aquela cidadezinha sertaneja. P. 66.

Fortaleza, Ceará.
Março a julho de 1967.




APÊNDICE


NOTAS DE UM CADERNO DE LEMBRANÇAS DO SENADOR THOMAZ POMPEU DE SOUZA BRASIL, INICIADAS QUANDO AINDA ESTUDANTE DO SEMINÁRIO DE OLINDA


Viagem de Santa Quitéria a Recife: 72 dias de viagem.


            “Saí de minha casa [em Santa Quitéria] para Pernambuco, no dia 15 de julho de 1836, de Sobral no dia 23, do Ceará (Fortaleza) no dia 10 de agosto, cheguei no Recife no dia 27 de setembro, entrei no Seminário no dia 10 de outubro. [...]

Santa Quitéria não ficava “no Ceará” (o Ceará era Fortaleza).


Saí de Pernambuco a 23 de novembro de 1843, cheguei em Santa Quitéria, muito doente de sezões, já ordenado sacerdote, a 12 de dezembro. Fui ao Ipu, a 10 de janeiro de 1844, andei por São Gonçalo [...], e voltei a Santa Quitéria a 8 de fevereiro. Fui para Sobral em princípio de março, onde fui convidado para defender uma causa civil no Ipu, para ali fui em princípio de abril. Saí para Santa Quitéria em junho, e dali para o Ceará, em julho, voltei do Ceará em fim desse, fui para Sobral em 2 de janeiro de 1845, e dali para o Ceará, passando por Santa Quitéria em 8 de janeiro. Cheguei ao Ceará a 18 do mesmo mês, com intenções de embarcar para Pernambuco. Fiquei aqui [...] quando aceitei o cargo de professor de Geografia e Diretor do Liceu”. P. 72.

            Nasci a 6 de junho de 1818, em Santa Quitéria da Comarca de Sobral, Província do Ceará, filho legítimo do capitão Thomaz de Aquino Souza e Jeracinaa Isabel de Souza, [...]

Tive a notícia da morte de meu pai (em Recife), no dia 24 de dezembro de 1839 [...] . Morreu em Vila Nova [...] longe de casa, de sua família, longe de mim, seu filho mais caro. [...].


Endogamia clãnica:


Casou minha mana Maria [Joaquina de Souza Magalhães], no dia 5 de julho de 1838, com o meu primo João Antônio de Mesquita Magalhães. Soube disto em Olinda, no dia 6 de setembro do mesmo ano. Casou-se, no dia 19 de julho de 1838, o meu mano [Antônio Pompeu de Souza Catunda] com a irmã do meu dito primo e cunhado, dona Inocência Pinto de Mesquita, filha legítima do meu tio capitão Ludovico Pinto de Mesquita, e soube em 6 de setembro do mesmo ano. P. 74.

OBS: Questões que podemos tirar daí:
a)      Endogamia;
b)      A demora na chegada das notícias;



Pompeu torna-se padre e advogado:


Ordemou-me Diácomo, no dia 19 dede março de 1840 [...] o Exmo. Bispo D. João da Purificação [...] Cantei missa [...] no dia 18 de setembro de 1841. [...].
            Tomei o grau de bacharel formado em ciências jurídicas e sociais a 24 de outubro de 1843 [...]. p. 73.

OBS: Estas eram estratégias da família para preservar postos de poder na Igreja, no judiciário e na política.  


Fala dos exames que prestou para ingressar no seminário, e para o curso de direito:

[Latim, aritmética, francês, inglês, Cronologia e História].


Filhos “bastardos” do padre Pompeu:


Fui provido nas Cadeiras de Geografia e História e Diretor do Liceu do Ceará, em 18 de maio de 1842, com muita pouca vontade de minha parte, e só para anuir aos desejos de minha família que não queria que eu continuasse fora do Ceará. Neste mesmo ano, a 3 de agosto, tendo sido eleito 1º suplente de Deputado Geral, com a morte do Ver. Costa Barros, [...] passei a ocupar o seu lugar no Parlamento, e fui depois eleito deputado provincial. Em 1º de setembro de 1846, nasceu o meu primeiro filho que foi batizado pelo vigário Justino, sendo padrinho o Dr,. Lima; morreu a 6 de dezembro do mesmo ano. Em 11 de novembro de 1842, às 9 horas da noite, nasceram gêmeos dois filhos meus, um do sexo masculino, o outro do feminino, o primeiro [...] faleceu a 14 de junho de 1850. [...]. p. 75.

OBS: Repare que ele encara com a maior naturalidade o fato de ter filhos (só não aparece o nome da esposa; o que evidencia que a profissão de vigário não era levada muito a sério (era só uma questão de poder) e que a mancebia o incomodava, pois nada nos diz do nome de sua esposa, que lhe gerava “filhos naturais” e bastardos e um casamento “ilegítimo”.


Tereza de Souza Acioly, filha de Pompeu e esposa de Acioly:


            Minha filha Maria [Tereza de Souza Acioly] nasceu a 11 de novembro de 1849, foi batizada pelo vigário Carlos augusto Peixoto de Alencar, forma seus padrinhos seus tios, meu cunhado Coronel João Antônio de Mesquita Magalhães e minha irmã Maria Joaquina de Souza Magalhães [...]. O meu filho Hildebrando nasceu a 11 de dezembro de 1853, [...] foi batizado em casa, [...] foram padrinhos o Dr. Vicente Alves de Paula Pessoa e a minha sobrinha Joana de Oliveira Catunda, filha do meu irmão Antônio Pompeu de Souza Catunda, no dia 2 de janeiro de 1854.”  P. 76.






THOMAZ POMPEU DE SOUZA BRASIL (DR.)

Filho do Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, nasceu em Fortaleza a 30 de junho de 1852.

Depois de formado em 1872, assumiu a redação do “Cearense”  ao lado do pai, de José Pompeu e João Brígido.

De 1878 a 1886 foi eleito e reeleito deputado à Assembléia Geral Legislativa, [...].

Em 1880 [...] a 8 de julho desse mesmo ano fundou , João Lopes,Julio César e João Câmara , a “Gazeta do Norte”, órgão dos liberais Pompeus.

O Pompeu  - filho - residente da província do Ceará:

Ao deixar a administração da Província, como vice-presidente que sucedeu ao presidente Henrique d’Avila, apresentou importante Relatório sobre a Assistência Pública em 1888 e 1889. p. 79.



Atuação intelectual do segundo Thomaz Pompeu:



Comercio e indústria no Ceará [...] 1885. p. 79

População do Ceará. [...] Revista do Instituto do ceará, ano 1889, pag. 78 e ano 1890, págs. 72 e 253.

Discurso proferido na sessão de 12 de março de 1889 [do Instituto Histórico do Ceará], por ocasião de sua posse de sócio efetivo [...] 1889.

Dualidade das Câmaras Legislativas [...] 1891[...].

Vantagens do trabalho de irrigação no Ceará Fortaleza, 1892.

Rápida notícia sobre o Ceará destinada à Exposição de Chicago, [...] 1893 [...].

Memórias sobre o plantio da maniçoba, [...]

As vantagens da irrigação por meio da barragem do boqueirão de Lavras, [...] [1894].

Lições de Geografia Geral [...] [1894].

Importância da vida humana como fator de riqueza. O desenvolvimento da população de Fortaleza. Natividade e mortalidade. Revista da Academia Cearense [...] 1896.

Analise dos diferentes sistemas de esgotos. [...] 1896. p. 79.

Os efeitos benéficos das medidas higiênicas e especialmente dos esgotos. Revista da Academia Cearense, ano 1897. p. 80

Relatório da Associação Comercial do Ceará [...] [1899].

Irrigação no Ceará, Revista da Academia Cearense, 1902, pp. 69-121. [...].

Memórias sobre a cultura da cana-de-açúcar no Ceará, 1904 [...].

Prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité, série de artigos sobre o melhor traçado para o Crato, publicado em em 1905 no jornal República.

Relatório apresentado ao secretário de Estado dos Negócios do Interior José Pompeu Pinto Accioly [...] em 1907 [...].

O Ceará no começo do Século XX [...] 1909 [...].

O Ensino Superior no Brasil e Relatório da Faculdade de Direito do Ceará nos anos de 1911 e 1912, Fortaleza, Typ. Minerva, 55, Rua Major ;facundo, 1913, in-8º de 489 pp.

Memória Histórica dos anos de 1914 e 1915  apresentada à Faculdade de Direito do Ceará, acompanhada  de um estudo sobre Método de ensino das Ciências Jurídico-sociais. 1917 [...]. p. 80.

O ceará no Centenário da Independência do Brasil [...] 1922 e 1926. . p. 81.  



Foi presidente da Academia Cearense e do Instituto do Ceará, sócio correspondente do Instituto Histórico da Bahia, da Sociedade de Agricultura do Rio de Janeiro, lente aposentado do Liceu e Escola Normal do Ceará, lente em disponibilidade da Escola Militar do Ceará, Diretor lente da Faculdade do Ceará, cujo Regulamento organizou em 1903. p. 81.

Faleceu em Fortaleza a 6 de abril de 1929 [...].


OBS: este homem foi o “intelectual orgânico” mais ativo da república velha no Ceará, produzindo um conhecimento técnico-científico que pretendia servir de substrato para as ações e reações políticas da facção lideradas por seu cunhado Accioly. Nele salta aos olhos o uso do conhecimento científico para moldar o ambiente social, geográfico e humano; as preocupações com a geografia forneciam subterfúgios para as estratégias de intervenção no semi-árido, as analises acerca da população da província/Estado permitem conhecer o “homem” – o retirante -, os investimentos em Estadas de ferro, Açudes, irrigação etc. permite ao grupo construir as justificativas que serviam de suporte ao uso do “socorro aos pobres” com fins de “investimento infra-estrutural” no Ceará.   
            Há em Pompeu e seu grupo uma clara preocupação com a construção de uma memória histórica para o Ceará; e instituições como o Instituto Histórico do ceará e a Academia Cearense serão ferramentas fundamentais nesta direção.  



COMENDADOR ANTÔNIO PINTO NOGUEIRA ACCIOLY


OBS: Genro do primeiro Senador Pompeu e cunhado do segundo, Accily não representam uma ruptura, mas uma continuidade, do monopólio político em torno deste grupo. O consenso em torno do poder não deixou de pertencer a alguém próximo aos Pompeus; mas distancia-se um pouco da região de Sobral, com a morte de Vicente Alves de Paula Pessoa.


1840 – 1921. Nasceu em Icó, a 11 de outubro de 1840, sendo seus pais José Pinto Nogueira e D. Antônia Pinto Nogueira, filha de José Pinto Coelho, português e negociante naquela cidade.


Accioly é nomeado promotor público e juiz:


Havendo-se bacharelado na faculdade e Direito de Recife, em 1864, oriundo de uma família de influência na antiga Província, obteve fácil entrada na vida pública, sendo logo nomeado Promotor de Justiça da cidade natal, lugar que deixou para desempenhar mais tarde os de Promotor Público de Saboeiro e Juiz Municipal de Baturité e Fortaleza.
Ao tempo da Reforma Judiciária, em 1871, ocupou o cargo de Substituto da comarca especial de Fortaleza.


Accioly herdeiro político de Pompeu e Alencar:


Não era, todavia, a magistratura a carreira que o destino lhe acenava com as mais risonhas promessas, e sim a política. Esta o sagrou igual, na autoridade e prestígio, a João Facundo, Alencar e Pompeu, os grandes chefes liberais do Ceará no antigo regime, e o distinguiu com uma Cadeira na Câmara dos Deputados Gerais. Em 1880, e com a escolha para Senador em julho de 1889, depois de memorável pleito eleitoral, cheio de complicações e surpresas. A C. I.. de sua nomeação de Senador tem a data de 25 de outubro. P. 82


Eleição de Accioly para o Senado, em 1889, ainda na monarquia:

Procedeu-se a eleição em 1889, para o preenchimento da vaga ocorrida com o falecimento (31-3-1889) do Conselheiro Vicente Alves de Paula Pessoa. Constitui-se lista tríplice:
Joaquim da Silva Freire (Barão de Ibiapaba)....................................................4.398 votos.
Antonio Pinto Nogueira Accioly.......................................................................4.286  ,,
Tristão de Alencar Araripe................................................................................4.187  ,,


Em 1884, quando vice-presidente do Ceará, foi nomeado presidente da Província do Espírito Santo, cargo que não aceitou.
A Revolução de 15 de Novembro não lhe permitiu tomar assento no Senado, [...]. p. 83.

...a República fê-lo (sic) Presidente do Congresso Estadual, reunido após a deposição do General José Clarindo, 1º vice-presidente do Estado. Senador Federal (2 vezes), presidente do estado em sucessão ao governo do Cel. José Freire Bezerril Fontenelle e novamente em substituição ao Dr. Pedro Augusto Borges, sendo reconduzido no cargo em 1908.

Desta sorte, o Deputado Provincial nos biênios de 1866-67 e 1868-69 chegou a ocupar os mais elevados postos na magistratura e política de sua terra.
Deposto do governo do Estado por um movimento popular a 24 de janeiro de 1912, passou a residir na Capital Federal, onde faleceu a 14 de abril do ano corrente. P. 83.



A SALVAÇÃO DO CEARÁ



(inconcluso)




Catunda ataca ao padre Correia no Bacamarte dos Mourões:




Os ataques de Catunda, filho de uma das maiores lideranças liberais da então província foram virulentas e intrigantes:

Em princípios deste século, na cidade de Aracati, Rua do Pelourinho, [...] nasceu uma criança do sexo masculino. [...] As trevas tornaram-se mais espessas; uivaram-se os cães; as aves da noite esvoaçaram [...] soltando logos e dolorosos pios; ouviu-se um ribombo perlongado e surdo como o de um trovão subterrâneo; e o solo foi agitado por súbitas e violentas comoções e um cheiro acre de enxofre derramou-se pela casa da parturiente e circunvizinhança.[2]



[1] Anais da Biblioteca Nacional; Vol. 86, 1966. Correspondência passiva do senador José Martiniano de Alencar (1º de maio de 1833). p. 195-196. (como no original).
[2] Id; ibid. p. 175.

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