segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Há alguma poesia no boi monto da beira da estrada?


Talvez haja uma fagulha de Deus no sol que arde,
No boi morto na beira do caminho,
No céu com tantas estrelas mudas,
No riso cativante da mulher amada,
Na relva que brota do nada,
E no vento que passa sem pressa
E assusta os homens e as mulheres e as crianças
Como um anúncio do fim.

Talvez haja uma fagulha de Deus no verme
Que come a carne do boi morto na beira da Estada!
No Sol que arde,
No dia quemorre,
Na noite que nasce.

Tavez haja uma fagulha de Deus!!

Talvez haja uma fagulha de Deus no átomo
Que formou Células,
E que formou moléculas
E que formou sangue e caração e intestinos, e cérebro
E se traduziu em vida (a minha vida, a sua vida, a vida de todas as criaturas vivas!).

Talvez haja uma fagulha de Deus nesta humanidade estúpida.
Bárbara, animalesca, vampiresca humanidade decaída.
(Pobres demônios que tentam se passar por anjos
E que precisaram inventar um Deus
Para curar-se de suas fraquezas!).
Talvez haja uma fagulha.

Mas onde ela está agora?
Na chama que queima os corações animalescos dos homens?
Ou na fome por dinheiro dos multimilionários?
Seria na rota rumo ao cáos do mundo moderno?
Na violência escrita em nosso DNA?
Ou na retórica estúpida dos sonhadores
Que acham que tem Deus ao seu lado?
(Pobres ovelhas, que vivem entre leões,
E que sonham que são Deuses!)

Aquieta o teu coração, caro poeta,
Pois a verdade
É na verdade pesada demais para ser revelada
(Guarde-a para ti,
Como o Deus dos surdos-mudos
Que nada tem a dizer
Aos que nada querem ouvir).

Pois há uma Fagulha,
E a verdade,
É que não há verdade nesta vida louca
Mais do que a verdade que se vê
Nos olhos vazados do boi morto da beirado caminho.

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