terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Teatro São João - Sobral, ce.


A ideia de se construir um teatro estava ligada a consepção de que o tearo era um "farol civlizador". Representava ele ao velho servilismo cultural das elites cearenses de se distinguir dos "tabaréus" do sertão a sua volta cultivando signos e símbolos de civilização; era como se dissessem, com isso, que aqueles que frequentavam ao teatro (a eelite da sociedade) eram "civlizados" e "cultos", e os que não o faziam eram "incivilizados" e "bárbaros". Estavam assim justificadas as hierarquias, o poder de mando e os privilégios das elites (elas mereciam, pois eram mais "civilizadas" do que os "cabocos" a sua volta!). Seria aterrador e vergonhoso admitir-se que, em pela seca de 1877-79, quando na capital da província, milhares de pessoas morriam de fome e de doenças (Rodolfo Teófilo fala que num só dia morreram mil pessoas de varíola), na reião norte, as elites políticas de Sobral estavam construíndos templos de ostentação aristocrática (que me perdoem a sinceridade da emoção, mas foram uns verdadeiros filhos-da-puta!).
A construção em Sobral do Teatro São João, ganhou impulso graças as verbas da seca de 1877-79:  

Depois que o presidente da sociedade [União Sobralense], Dr. Antonio Joaquim Rodrigues Junior, abriu a sessão, procedeu-se à leitura da ata, que foi colocada na cavidade da pedra com três fotografias de ruas da cidade, alguns números d’ “O sobralense”, moedas de prata, cobre e níquel da época atual. A cerimônia religiosa foi ministrada pelo Ver. João José de Castro, e serviu de paraninfo o Dr. Vicente Alves de Paula Pessôa, Juiz de Direito da Comarca. [...].
As obras continuaram, porém morosamente, até que, pela verba dotada para socorros públicos na seca de 1877, tomaram impulso, sendo desta época quase todo o arcabouço. Nesta fase da construção, merece ser evocado, por sua eficaz ingerência, o presidente José Julio de Albuquerque Barros, Barão de Sobral. [1] 

            Segundo Raimundo Girão, o presidente da província do Ceará, José Júlio governou o Ceará de 8 de março de 1878 [...] a 2 de janeiro de 1880 [2].  Somando forças ao velho Francisco de Paula Pessoa (o senador dos bois) e a seu filho Vicente de Paula (juiz de direito em Sobral nesta ocasião), Júlio e seus aliados tiveram força política para angariar recursos federais a serem empregados na região norte, e não apenas na capital da província. (ao contrário do que apregoa a historiografia radicada na UFC, a seca “apocalíptica” referida por Sebastião Rogério Ponte[3] e Frederico de Castro Neves[4] fora um fenômeno urbano especifico de Fortaleza – a capital pagava o auto preço pela centralização administrativa. Na região norte do Ceará esta seca se traduzia na ampliação dos investimentos do poder central em obras públicas ligadas as instituições de poder político, como casas de câmara e cadeias - em Ipu, Sobral, Camocim Granja, entre outras -, e com a construçã oda Estrada de Ferro de Sobral). A história da seca - e de seus usos e abusos - na região norte do Ceará ainda está por ser escrita.  
Ao presidente do Ceará, José Júlio Barros, um dos juristas mais contemplados pelo Imperador com títulos e nomeações, e ao velho senador Francisco de Paula Pessoa, os interesses pessoais, a lógica de favorecer primeiramente o seu grupo de parentes e amigos estava à frente da lógica do “bem comum” (ligado aos interesses nacionais ou provinciais). E o velho Imperador e seus ministros, carentes de apoio político – pois o republicanismo crescia a olhos vistos - atenderam-lhes aos caprichos. E a Estrada de Ferro de Sobral estendeu seus trilhos – ignorando a Ibiapaba – sobre o coração semi-árido da região norte cearense. Assim como Sobral teve o seu tótem de adoração aos valores aristocráticos de sua elite vaidosa e pedante.
            Antonio Bezerra de Menezes deixou para a posteridade o seu protesto:


Aquilo significava para mim a última palavra da vaidade humana, a ostentação caprichosa da falta de patriotismo, a impunidade do extravio dos dinheiros públicos sob fútil motivo, o ridículo mais cruciante aos sacrifícios de um povo inconsciente dos seus direitos!
Adiante me encarregarei de provar o que vem a ser aquêle luxo de despesa, aquela argalhada de escárnio modelada em escala ascendente, desde Camucim até Sobral, que nem o futuro com tôdas as suas promessas de grandeza será capaz de fazer emudecer.
... não conheço nesta província nada mais inútil, nem mais ilusório, que aquela grande mentira escrita em 131 quilômetros de trilhos de ferro.  [1]
Dom José tentou fazer a defeza da ferrovia e do teatro de Sobral, mas dadas as condições econômicas e históricas em que ambos foram construídos, aquelas obras são indefensáveis. Como diria Bezerra:
Aquilo significava para mim a última palavra da vaidade humana, a ostentação caprichosa da falta de patriotismo, a impunidade do extravio dos dinheiros públicos sob fútil motivo, o ridículo mais cruciante aos sacrifícios de um povo inconsciente dos seus direitos!



[1] MENEZES, Antônio Bezerra de. Notas de Viagem. Imprensa Universitária do ceará: Fortaleza, 1965. p. 67.


[1] FROTA, D. José Tubinabá da. História de Sobral. 2ª ed. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1974. p. 496-497. (o grifo é nosso).
[2] Girão. R. 1985. op. cit. p. 302.  Anos mais tarde – em 1887 – este homem seria agraciado com o título de Barão de Sobral.
[3] PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860 – 1930). 3ª ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001.
[4] NEVES, Frederico de Castro. A multidão na história: saques e outras ações de massa no Ceará. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense. Tese de doutorado, 1998.

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